10/01/2009

Vilã, Flora encanta o Brasil

Novela, que era rejeitada no início, termina com altos índices de audiência

Como explicar que uma novela que em seu primeiro mês era ironizada pelos próprios funcionários da Globo como “a rejeitada”, devido a seus baixos índices de audiência, esteja chegando ao fim dominando as conversas e galvanizando atenções, como esta A Favorita, que se encerra no próximo fim de semana? Uma boa explicação é que, como os mais escolados autores de telenovela sabem, amparar-se na tradição clássica do folhetim é uma receita de sucesso junto ao público de TV, e nada está mais enraizado nessa tradição do que a necessidade de um vilão carismático. E a lunática Flora interpretada por Patrícia Pillar cumpriu esse papel com mérito.


Loureiro Chaves lembra que quem vai implodir esse modelo na literatura é o maior escritor brasileiro, Machado de Assis, cujo desconcertante Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado em capítulos na imprensa. Já na televisão contemporânea essa implosão total não aconteceu. Com alterações mais cosméticas do que de linguagem, a trama de João Emanuel Carneiro brincou em um primeiro momento com as fórmulas preconcebidas, escondendo a identidade da vilã e dando a entender que Flora era a vítima. Por coincidência, enquanto essa definição foi a tônica da novela, os índices de audiência claudicaram. O folhetim ganhou mais interesse por parte do público quando Flora se revelou uma vilã clássica e maquiavélica.

– O uso dessa estratégia não é nova, o que muda é sua aplicação ao folhetim. É um recurso comum nas narrativas de suspense, ou seja: o autor trouxe para sua estrutura de folhetim o código de um outro tipo de literatura popularíssima – comenta a professora Roberta Manuela Barros de Andrade, doutora em Sociologia e coordenadora de grupo de Estudos de Narrativas Ficcionais da Universidade Estadual do Ceará.

Roberta Manuela ressalta também que o jogo com as emoções dos telespectadores também foi um elemento arriscado, dado que uma parte deles se sentiu traído pela personagem Flora à qual já haviam se afeiçoado – em parte pelo carisma de Patrícia Pillar – quando ela se revelou a verdadeira vilã..

– Tenho um fato curioso para contar: a minha neta, de oito anos, assistia à novela até o momento em que a Flora se revelou a vilã. A partir daí, ela se chocou e não quis mais assistir. No mundo real, todos temos características boas e más. Mas de uns tempos para cá, os personagens maus em folhetins de TV são apresentados com um quê de doença ou de perversidade. Essa maldade perversa da Flora deixa o espectador horrorizado e fascinado. Mas a novela sempre acenou com a possibilidade de que, no fim, o público vai compreender as motivações da Flora, e talvez por isso a maldade dela mais intrigou do que repeliu – diz Elizabeth Bastos Duarte, pesquisadora de Comunicação e Mídia.

*Na página da notícia há alguns vídeos, para acessar clique aqui.

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