06/01/2013

Entrevista com Patrícia Pillar

Falsa moralista- Atriz vive mais um momento como vilã na telinha. Depois do sucesso de Flora em A favorita, rouba a cena como Constância, mulher autoritária de Lado a lado

Depois de uma temporada longe das novelas, Patrícia Pillar brilha mais uma vez na pele da antagonista de Lado a lado, da Rede Globo. A atriz, que já trabalhou em tramas do mesmo segmento, como Salomé, Sinhá Moça e Cabocla, diz ser fã de folhetins de época. Defendendo a personagem Constância, uma mulher sem limites, autoritária e falsa moralista, Patrícia afirma que não há comparação com Flora, sua última vilã e personagem de A favorita, já que o trabalho é completamente diferente. Aos 48 anos, a atriz entrega que, para estar bem, mantém hábitos saudáveis à mesa e não dispensa uma corrida ao ar livre para mandar embora a preguiça e também as calorias.

Você é uma atriz experiente, com 27 anos de carreira e papéis importantes na televisão. Quando recebe um convite de trabalho, o que realmente faz você aceitá-lo?
Uma coisa interessante é a novela ter assunto, ter o que dizer. Em Lado a lado, há um pensamento que existe até hoje, isso é que é interessante. Gosto de bons personagens. Os personagens existem para que a gente deseje ou não ser como eles, para que a gente reflita sobre os comportamentos. Acho que a gente tem tudo isso. Essa novela fala muito do nascimento da mulher moderna. A Constância representa o nascimento de uma parte da nossa elite, não toda, mas a parte egoísta, que não tem sensibilidade social e existe até hoje. Pessoas que querem resolver tudo da sua forma. Fora isso, existe a parte cultural, que é o nascimento do futebol, o samba, a capoeira, o morro, a favela, tudo que construiu o nosso povo. Então, acho que tem um assunto rico, com personagens bem- elaborados representando a nossa história e, ao mesmo tempo, o nosso presente. É a fundação da sociedade que a gente tem hoje, é a República.

Depois do sucesso de Flora, em A favorita, mais uma vez você vive uma vilã. Como é fazer uma personagem má depois da personagem da trama de João Emanuel Carneiro?
Não acho a Constância essencialmente má. Ela luta por coisas que não consegue mais conter, que é o pensamento da filha em relação a querer estudar, a querer trabalhar. Quanto a voltar a fazer outra antagonista seguida, sinceramente, não penso nisso quando vou escolher personagem. A não ser eu a pessoa que está fazendo, elas não têm nada em comum. Não faço cálculos de tempo para desassociar uma da outra. Se essa novela tivesse aparecido logo depois, talvez eu tivesse aceitado. Gostei desse papel.

É verdade que até o fim da novela Constância vai disparar um verdadeiro arsenal de maldades?
Tudo o que ela faz, apesar de serem coisas bem erradas, é pela união da família. É para conseguir uma boa posição para o marido, por interesse, para ele continuar sendo importante. Não estou aqui a defendendo, mas todos os personagens são defensáveis. Alguns não aceito, mas tenho que compreendê-los. A Constância, por exemplo, vive em uma época em que a sociedade era machista e ela é machista também. Na cabeça dela, o homem pode tudo e a mulher não. Ela quer que os filhos sejam felizes da maneira que ela acha certa. E aí é que está o engano dela. Mães erram também, né?

Ela tem uma visão bem fechada, obtusa e bem conservadora. Se você tivesse vivido na época da novela, com qual perfil de personagem você mais se identifica? Qual delas você seria?
Sem dúvida, eu, Patrícia, seria a Laura ou a Isabel (risos).
Constância prega tanto a moralidade e teve um caso com Bonifácio (Cássio Gabus Mendes).
Ela teve uma relação com o Bonifácio também por interesse e também porque queria. Trata-se de uma falsa moralista. É uma moralista que está a serviço de tudo, menos da moralidade. Ela cobra tanto da filha, Laura. Tem horror do divórcio da filha e faz de tudo para conseguir uma boa noiva para o filho. Bem, como diria o Veríssimo (escritor, Luís Fernando Veríssimo): ‘O falso moralista é o mais inescrupuloso’.

Você fez as novelas de época Salomé, Cabocla e Sinhá Moça. Você gosta de dar vida a personagens em tramas assim?
Adoro. Essa, por exemplo, trata-se de uma ex-baronesa, o que muda tudo. Essa é da cidade e perdeu tudo. Tem o fim da escravidão e ela não tem mais empregada. É uma família em declínio financeiro e isso os desestrutura completamente. É uma delícia quando tem uma caracterização forte para a gente conhecer como eram as coisas na época. Levo, em média, uma hora e 30 minutos para ficar pronta. As roupas têm muitas camadas, algumas têm 12 tipos de rendas. É incrível. Tem o espartilho, anágua, saia e tule. Os tecidos são leves, o que faz parte da linguagem para não nos deixar muito presos.

Sua última novela inteira foi A favorita. Depois, você fez algumas participações especiais. Você é aquele tipo de atriz que se preocupa em descansar a imagem e evita fazer um folhetim atrás do outro?
Em geral, não faço uma novela atrás da outra. Gosto de fazer outras coisas. Depois de A favorita, fiz várias participações, como em Passione, os dois primeiros capítulos de Divã e a série As brasileiras. É importante para o artista variar. Tem projetos que estou namorando no cinema, mas meu tempo é lento. Estou fazendo tudo com calma.

Você está com 48 anos e um corpo em forma. Qual o segredo para manter as medidas no lugar?

Atualmente, estou gostando de correr. Pratico a corrida mais em lugares ao ar livre. Isso quando dá tempo. Ainda faço um pouco de alongamento e RPG para cuidar da coluna. No mais, é ter cuidado com a alimentação. Adoro as comidas orgânicas, mas isso não quer dizer que sou uma atriz radical. Como de tudo, desde batata frita até tutu de feijão. Adoro! Só não pode ser todo dia.

ENTREVISTA: Diário de Pernambuco.

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