20/02/2009

A opinião de Fernando Sobral: O trunfo de 'A Favorita'

A crise das telenovelas é real. Perderam a sua mística e, depois de ter tido um trajecto cansativo e sem emoção, ‘A Favorita’ só despertou a partir do momento em que uma grande actriz, Patrícia Pillar, mostrou como se dá vida a uma vilã.

Pode uma actriz salvar uma telenovela? Depois de se ver ‘A Favorita’ acredita-se que sim. Patrícia Pillar (a vilã ‘Flora’) tornou-se o motor da parte final de uma novela que é típica da mais recente produção da Globo: desinteressante, repetitiva e sem a vibração que, durante anos, tornou o canal brasileiro o sol que iluminava as audiências.

O Brasil está a mudar e a Globo não tem percebido, através das suas novelas, a mudança do seu público. E esse é, muito provavelmente, o drama da Globo. Durante décadas as telenovelas forneciam ao espectador o sonho de um mundo diferente. Novela de horário nobre no Brasil (21 horas) ela, como quase todas as mais recentes produções da Globo, foi deslizando em Portugal para um horário nocturno pouco significativo. Mas, nas últimas semanas (o irrealismo da questão é a SIC ter anunciado desde há mais de 15 dias “os últimos episódios”, enquanto a novela ainda se estendia por mais algum tempo), a questão central (quem era a vilã) foi desvendada.

As atenções voltaram a centrar-se em ‘A Favorita’. E aí a novela contou com um trunfo que parecia estar escondido: Patrícia Pillar. Ela deu o corpo e a alma a uma personagem psicopata. O enredo rejuvenesceu e o suspense (inexistente durante quase todo o tempo) surgiu do nada. Melhor: Patrícia Pillar convenceu com a sua deliciosa interpretação que era uma assassina fria e que o seu ódio à família Fontini era real. Numa novela toda a ficção tem de parecer real: e, até agora, em ‘A Favorita’, isso não sucedeu. Ninguém percebia quem eram os bons e os maus. Isso funciona num filme de duas horas. Não cativa numa novela de centenas de episódios.

No essencial, ‘A Favorita’ era uma tentativa de renovar a telenovela da Globo. Não alterou o panorama, até pelo excesso de violência e crueldade. Algo que tem pouco a ver com o sonho que as telenovelas têm de transmitir. Patrícia Pillar salvou o final de ‘A Favorita’, mas o género está estagnado e sem graça. Não admira que agora a Globo aposte no exótico, com ‘Caminho das Índias’. Pode ser que regresse o fascínio pelo sonho perdido.


* Crítica publicada no "Correio da Manhã" em 20/02/2009.

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